quinta-feira, 22 de outubro de 2009

“O Rio de Janeiro continua lindo. O Rio de Janeiro continua sendo...”





Quem viu a festa em comemoração da escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016 não consegue imaginar onde se encaixa o caos em que vive a capital hoje. Venderam um lugar maravilhoso, com praias, mulheres, o país do futebol-arte; uma realidade estampada só nas chiques telas frias ao redor do mundo, porque, ao olho-nu morador das favelas, o Cristo Redentor “está com os punhos cerrados na vida real”, como diria Hebert Vianna. O Rio se tornou um pesadelo encomendado onde só a população mais pobre sofre. As pessoas estão morrendo, gente inocente que não tem nada a ver com a milícia, tampouco com a polícia, e ninguém fala nada! Ficam repetindo que o Rio das Olimpíadas de 2016 continua lindo e mascaram o Rio de Janeiro das favelas, das omissões do governo, da pobreza, do desemprego, da fome, das drogas, da violência em geral.

Ficou muito claro que se trata de uma política de extermínio da população pobre porque a polícia não tem feito seu papel de fornecer segurança da população e sim de reprimir, amedrontar. Frente a isso, tudo que o Ministro da Justiça tem a dizer é: limpem os cofres, usem todo o orçamento para garantir o fim dessa Guerra Civil. E seja feita vossa vontade: a polícia ganhou um novo helicóptero (agora blindado), um arsenal bélico infinitamente poderoso, enfim, se armou até os dentes pra combater, injustamente, pessoas normais, civis, reféns da própria política de descaso que vem sendo praticada desde a colonização, enquanto isso, ainda tem gente morrendo de fome (mas isso é assunto para um outro dia de indignação).

Há muito tempo necessitamos de uma política diferente para nosso sistema de segurança, mas isso não acontece porque falta tato nessa gestão (e nas passadas também) pra tentar resolver os problemas de uma forma mais humana (ou seria menos humana?). É preciso que seja criada uma política de segurança que leve em consideração os dois lados da moeda: população e policiais e que seja discutida também por todos os lados, unificando assim os pontos de vista da sociedade, dos trabalhadores policiais, dos movimentos sociais e do governo. Para isso, falta gente séria e comprometida que não arrisque a vida das pessoas inocentes em nome de um capricho chamado Olimpíadas/Copa do Mundo. Aliás, em pleno aniversário de 25 anos da Constituição dos Direitos Humanos, o governo Brasileiro dá um show de desumanidade, sendo hoje a nação que mais mata seus jovens. Fora os outros problemas causados pelo abismo social existente.

Termino o texto com um poema de Bertolt Brecht, que passa a mensagem de que a luta deve continuar apesar dos pesares:

Elogio da Dialética
A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só a força os garante.
Tudo ficará como está.
Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
No mercado da exploração se diz em voz alta:
Agora acaba de começar:
E entre os oprimidos muitos dizem:
Não se realizará jamais o que queremos!
O que ainda vive não diga: jamais!
O seguro não é seguro. Como está não ficará.
Quando os dominadores falarem
falarão também os dominados.
Quem se atreve a dizer: jamais?
De quem depende a continuação desse domínio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o "hoje" nascerá do "jamais".

Um comentário:

  1. Eu acho que o povo nas olímpiadas vai sequestrar o Obama pra trocar com o Lula.

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