segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Tubinho Pink Geyse (ou coisa que o valha)



(Essa charge foi gentilmente cedida por João Bosco! Quer ver mais do trabalho desse excelente chargista? Clica aqui)

Geyse de Arruda, há um mês, tem feito história na mídia brasileira, depois do incidente da Universidade Bandeirante, interior de São Paulo em que ela foi perseguida e agredida (verbal e fisicamente) por estudantes, funcionários e professores da UNIBAN. Em um mês muita coisa aconteceu: ela foi perseguida dentro da universidade por estar usando um vestido curto, o vídeo virou sucesso no youtube, ela foi expulsa e readimitida na mesma universidade, a sociedade se dividiu entre conservadores e defensores das causas femininas e Geyse virou celebridade repentina a ponto de frequentar vários programas de televisão numa mesma semana e virar tema pra música Axé.

Em meio a tudo isso, é possível perceber dois momentos-chave: um em que o direito que as pessoas têm de escolher o que fazer com o próprio corpo foi cruelmente violado e o outro em que a causa está sendo ridicularizada pela mídia. No primeiro ponto percebe-se que uma boa parte da sociedade se sentiu atingida pelo acontecido e demonstrou apoio à causa de Geyse, repudiando a UNIBAN, as pessoas envolvidas e suas atitudes. Já no segundo, a ridicularização que a mídia está impondo à sociedade incide não só em Geyse, mas também em todos aqueles que defendem um mundo mais justo para nós mulheres. Ora, agora, um mês depois, fica muito difícil sair às ruas com cartazes utilizando-se do acontecido da UNIBAN para denunciar as várias formas de machismo arraigadas em toda a sociedade, se a própria Geyse está se utilizando da fama repentina para se mostrar. Isso faz com que muitas pessoas acabem aceitando que ela merecia aquele tratamento por parte dos estudantes. O protesto parece ficar sem chão. Não quero, contudo, dizer de forma alguma que as manifestações em busca de direitos iguais independente do gênero (e também da raça ou da opção sexual) devem parar. Muito pelo contrário, elas devem tomar novo fôlego e atacar a única culpada de toda essa história: a mídia burguesa.

Sim, a mídia é culpada porque desde crianças nós aprendemos a usar nossos corpos como verdadeiras armas da sedução. A gente aprende que a mulher é sinônimo de beleza e que essa mesma beleza é padronizada num modelito loiro, alto, branco e bem-modelado. A gente assite todos os dias às mulheres-frutas dançando, às atrizes em todas as novelas e filmes, às cantoras, às dançarinas do Faustão, enfim, a todas elas de roupa curta em horários permitidos ou não. A mídia reproduz (dita?) o que se deve pensar, o que se deve fazer, o que se deve vestir e não adianta falar em liberdade de expressão para decidir-se pela imposição ou não. Quando não se faz igual à televisão (seja por vontade própria ou não), o “produto” é rechaçado, vide meninas que não se enquadram nos “padrões de beleza” ditados, ou então movimentos sociais que vão contra essas imposições.

Por outro lado o que aconteceu com Geyse foi uma manifestação de conservadorismo hipócrita porque ao mesmo tempo em que homens e mulheres a xingaram (e continuam xingando) naquele corredor, em casa, com as Tvs ligadas, eles aplaudem as mulheres-frutas, as letras de funk que sempre colocam a mulher como um objeto sexual e etc. São essas mesmas pessoas que justificam o fato de uma mulher ter sido estuprada com a falácia de que ela estava se mostrando, estava de roupa curta. E são também essas mesmas pessoas que vão continuar justificando todas as atrocidades do mundo e colocando a culpa em quem não deveria. Quando um claro produto do sistema se materializa na frente das pessoas, elas reagem como se fosse uma aberração e eu me pergunto: porquê? Porque ela é pobre, moradora de interior e trabalhadora? Porque ela é bonita e gosta de saber que o é? Não se pode culpar Geyse e tantas outras por ser um produto da mídia,e pior, por estar gostando de ser o produto da mídia, atualmente. Temos sim é que continuar a luta contra o machismo, o conservadorismo e agora, mais do que nunca, contra o papel de ridicularização da luta que a mídia tem se prestado a fazer.

4 comentários:

  1. Esse episódio mostrou o quanto o conservadorismo hipócrita ainda é arraigado na nossa sociedade. Querendo ou não,seria de se imaginar que esse tipo de manifestação jamais ocorria nesse novo século, dentro de uma instituição de ensino superior.
    As deficiências da dita universidade nem são o ponto. Ela só reproduziu o comportamento retrógrado e machista que a mídia amplifica, como você bem pontuou. Se ontem as mulheres eram postas "no seu lugar" sendo reprimidas e subjugadas, a banalização e vulgarização da sua imagem acabou sendo uma defesa dos hipócritas com a emancipação feminina. "Não se comporta? Então é vadia."
    Bom texto.

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  2. O comentário sobre a sonoridade do português foi na África do Sul.
    Também acho o francês bonito, só não soa tão bem cantado (é engraçado, mas é o que me parece). O português casa muito melhor em melodias.

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  3. Você tinha que estar por aqui e viver esses tempos atuais do DF...

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  4. Mini Saia, Brilha muito no Corinthians.


    Na minha facul pode, as meninas vão até de microsaia se dúvidar, mas os homens se aparecerem de bermudão até o joelho não entra...

    De chinelos então nem se fala...

    Os homens não mandam mais nada, a sociedade é cada vez mais matriarcal.

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