sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Da corrupção em geral

Eu hoje acordei com vontade de escrever, de desabafar um pouco através de palavras sobre um tema muito recorrente: Corrupção. Não prentendo, no entanto, me ater ao discurso padrão contra os corruptos popstars do momento: Arruda, PMDF, Collor... não, nenhum deles. Minha ânsia por desabafo vai mais a fundo na raiz do que seria de fato “o ser corrupto”. É que pra mim é tão inconcebível a ideia de utilizar dinheiro que não é meu para fins pessoais que eu acabo por não entender o que se passa na cabeça dessas pessoas que são corruptas.
A palavra corrupção vem do latim e significa ato ou efeito de corromper, além de podridão. O verbo corromper por sua vez, logicamente também vem do latim, e significa tornar podre, estragar e subornar. Esses verbetes não poderiam estar mais interligados um ao outro além de mostrarem claramente que independente do número de zeros à direita, se são 8 mil ou 8 milhões de reais ou, ainda, uma caneta que pertencem a outras pessoas, não importa! É uma ação corrupta, podre, de quem se utiliza disso para beneficiar a si mesmo.
Inclusive não existe diferença alguma entre o político que desvia verbas que serviriam para melhorar o atendimento nos hospitais, melhorar as escolas públicas, a segurança; e o cara a quem se confiou o dinheiro de financiamento de um movimento social que tenta a todo custo se erguer com autonomia financeira, partidária e ideológica a serviço de uma sociedade mais justa. São duas formas nojentas de se demonstrar o quanto o ser humano pode ser egoísta, até mesmo aqueles a quem a gente dá um voto de confiança, nas urnas ou na vida.
E falo em “egoísmo” porque pra mim não existe outra justificativa para a corrupção. A sociedade capitalista está tão afundada em seu individualismo que é mais fácil as pessoas pensarem em seu próprio “bem” primeiro e talvez, mais tarde, pensarem nos outros. Além disso, nunca se utilizam desse dinheiro para comprar remédio, comida, sei lá, dar uma de Hobbin Hood. É sempre para consumo exagerado, sempre em nome da ganância, às custas do povo ou dos movimentos sociais (resguardadas as diferenças em cada caso).
Não quero contudo corroborar com uma das máximas do capitalismo, o individualismo, afirmando que não se pode mais confiar em ninguém, como se ouve por ai. Pelo contrário: esse é um chamado para o combate à corrupção dentro e fora das vias dos governos em geral. Combate-se corrupção nas ações do dia-a-dia inclusive punindo-se os responsáveis para que eles sejam exemplos de como NÃO se deve agir.

FORA CORRUPÇÃO DO PLANETA!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010


O texto abaixo reflete um debate mais do que necessário na luta das mulheres pelo combate à opressão: o feminismo e o capitalismo são incompatíveis e a luta para combater as opressões tem que passar pela luta de classes.



A mulher na ótica de dominação do capital produtivo

É a partir da forma como somos encaradas pelo capital, como mercadoria, que a potencialização da nossa luta ganha dimensões ainda mais expressivas.
Roberta Traspadini
Em meio à comemoração das conquistas manifestas pelo dia internacional de luta das mulheres, 8 de março, o debate a ser aprofundado é sobre a particular funcionalidade da diferenciação entre homem e mulher no modo de acumulação capitalista.
Algumas perguntas serão sugeridas como forma dialógica sobre o tema.


Qual o sentido do trabalho para o capital?
O trabalho para o capital é a fonte geradora de parte expressiva de sua riqueza. É através do trabalho, mais bem, da apropriação privada do trabalho alheio que o capital avança, se reproduz, ao longo de seu desenvolvimento histórico.

Assim, o trabalho em todas as suas dimensões é quem gera o valor daqueles, que no capitalismo, possuem suas riquezas materiais.

Sem produção apropriada não há capitalismo. Sua fonte então é a de ao se apropriar do trabalho alheio, consumir parte crescente do tempo cotidiano do trabalhador.

E esse é um elemento central. Ao longo do desenvolvimento das forças produtivas, o trabalho vai ser moldado, em cada época histórica, para ampliar sua produtividade, sem que com isso melhore, todo o contrário, a situação de sobrevivência de grande parte dos trabalhadores mundiais.

É o capital quem cria as diferenças de gênero, raça-etnia e idade?
Não. Estas diferenciações são anteriores a esse modo de produção e também fazem parte dos processos históricos de cunho diferente do capitalista, como as sociedades latinas anteriores à colonização, bem como as sociedades orientais.

O que o capital faz é se apropriar destas diferenças como potencial de seu poder de transformar a diversidade em diferença comercial, mercantil. Isto significa dizer que o oportunismo do capital, provoca, para o trabalho, distinções que gerarão conflitos na compreensão de classe trabalhadora, tamanhas as diferenças de remuneração, ocupação dos postos de trabalho, e projeção entre trabalho intelectual e manual.

Com a apropriação destas diferenças, transformadas em negócios, o que o capital provoca é a produção de um poder ainda maior na sua construção ideológico-cultural, frente aos sujeitos que possuem somente sua força de trabalho como condição de sobrevivência.

As diferenças se transformam em classificações e potencializam negócios para aqueles que se apropriam privadamente delas. É assim como a divisão entre o trabalho feminino e o masculino; e atrelado à ela, o ser homem e o ser mulher, ganha, no capitalismo mais avançado, dimensões importantes tanto para a valorização do capital na produção (com remunerações cada vez menores do trabalho feminino e uma informalidade maior para a mulher), quanto no consumo (políticas de marketing e venda para grupos diferenciados) .

Para o consumo, a distinção é essencial para caracterizar grupos, segmentos, indivíduos com a produção de necessidade comportamental de consumir para ser. Isto é muito importante: na sociedade capitalista de produção individualizada, fragmentada, só é cidadão aquele que, mais do que posse, tenha o desejo de consumir.

É a consolidação diabólica de transformar em desejo aquilo que não é realmente necessário. Aí entram em cena, ao invés das classes e de suas lutas, grupos sociais reduzidos a grupos consumidores, com formas específicas de consumo, com base em diferenciações étnico-raciais, de gênero e idade.

Essas diferenciações têm como função concreta, dispor de uma sociedade que, ao estar escravizada numa ponta (produção), não pode estar livre na outra (consumo).

Por isso para o capital, o ser mulher, implica e não implica, diferenças. Implica diferenças que, ao precarizar ainda mais o mundo do trabalho, pressionam para agudizarmos o conflito na luta de classes, com o objetivo de superá-lo. E, não implica diferenças na produção de valor desse modo particular de acumulação, que, com isto, requer que estejamos na luta, como classe organizada, homens e mulheres.

Mas isto significa que a luta da mulher é menos importante?
Não. Todo o contrário. Ao se aproveitar de forma oportunista de diversidade, transformando- a em diferenciação, concorrência, mercadoria, o que o capital faz é transformar o mundo do trabalho em grupos fragmentados que disputarão entre si posições a partir daquilo que, aparentemente, estão dispostos a receber. Aqui entra em cena o tema do trabalho assalariado “livre” para parte da sociedade. Outra parte, mais numerosa, classificada como desqualificada para o trabalho formal, é o que no mundo do trabalho fica caracterizado, pelo capital, como trabalhadores informais. Estes, estão fora dos direitos e deveres da ordem burguesa, logo, necessitam ser vigiados e castigados.

Por isso e muito mais, a luta da mulher, como classe que vive do trabalho é imprescindível. É a partir da forma como somos encaradas, pelo capital, como mercadoria ainda mais precária que a mercadoria trabalho em geral, que a potencialização da nossa luta ganha dimensões ainda mais expressivas.

Em outras palavras, a particular forma de opressão e exploração vivida por nós mulheres, tanto no mercado de trabalho (formal e informal), quanto no processo de produção de valores politico-culturais, traz para a classe organizada, elementos substantivos de, ao compreender os mecanismos gerados pelo capital contra o trabalho, lutar organizada e coletivamente por sua superação.

Nossa histórica tarefa revolucionária é a de trabalhar por uma estratégia que supere esse modo de morte em vida, ora protagonizado por nossa classe, sob o domínio do capital. Nossa tática, como mulheres pertencentes à classe trabalhadora, se vincula à estratégia de, ao frear a extração de valor, lutar por um outro projeto de socialização da produção e das relações sociais que a dão vida.


Roberta Traspadini é economista, educadora popular, e integrante da Consulta Popular-ES